Rogério Moraes 27/06/2012 • 3 min
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Yes, Nós Temos Chuchu!

Muito bem. Eu sei que é capaz de alguém reclamar: rapaz, você está do outro lado do mundo, vivendo num país com uma riqueza culinária enorme e ao invés de publicar receitas chinesas, resolve fazer comida brasileira?!?

Pois bem, isto é surpresa para mim também. Nunca cozinhei tantas receitas brasileiras como neste segundo ano aqui na China. Farofas (se falta farinha de mandioca, improviso com semolina – dica da Dotty e do Augusto), Manjares, Moquecas, Vatapás (fiz meu próprio camarão seco outro dia), Arroz com Pequi (trazido em conserva da última viagem a Goiás), Carreteiro e até Churrasco (para quem tem sogro gaúcho e preguiça de cuidar de um braseiro como eu, é uma façanha). Suspeito que, passados quase dois anos de nossa mudança, minha “curva-emocional-de-expatriado” está entrando na fase mais aguda de saudade das pessoas, lugares, gostos e perfumes do Brasil. Ultimamente, muitas das situações, sabores e aromas daqui têm me feito lembrar, de uma forma ou de outra, da terra em que nasci e vivi por 41 anos. E confesso que estou achando essa fase muito, muito estranha.

Expatriados mais experientes me convenceram de que esta nostalgia é normal e muda de intensidade com o passar do tempo, chegando enfim a um ponto de equilíbrio aceitável, ou melhor, administrável. Um amigo que foi dekassegui por muitos anos contou que quando morava em Gunma pagava qualquer preço por um sabonete “Lux” importado do Brasil. Só para sentir no Japão, por uns breves momentos do dia, o mesmo cheirinho do banheiro da casa da sua mãe. Achei graça quando ele me contou esta história, pensei ser exagero. Hoje compreendo o que significa. O quanto são compensadores estes “pequenos confortos” que nos levam de volta às origens.

Por isso ficou difícil conter o entusiasmo quando encontrei por acaso no “wet market” da vizinhança uma banca que vendia chuchu! Será que é chuchu mesmo? Aqui deste lado do mundo?! Como fala em Chinês? A atendente, lógico, achou minha reação muito esquisita:

– O senhor está espantando por quê? É só um vegetal.
– Eu sei. É que é tem muito desse vegetal lá no meu país. Não sabia que tinha aqui.
– Sim, sempre vendemos nesta época, é bom pro calor interno (sic) do corpo. Qual é o seu país?
– Brasil. Como vocês preparam aqui na China?
– Faz uma sopa com ossos de porco. Depois que cozinhar bem, tira os ossos e põe o Fó Shŏu Guā (佛手 瓜) para cozinhar. Faz bem pra saúde! E no Brasil, come como?
– Lá no Brasil Fóshŏu Guā dá no mato, em todo lugar, nasce sozinho, não precisa nem plantar! Tem também um da casca verde-escura, que eu acho mais gostoso. Nós fazemos refogado, mexido com ovo – do jeito do Chau Dan aqui da China – com creme, gratinado, recheado com carne moída, na salada… Até com camarão!
– Camarão?!? Fóshŏu Guā com camarão?!? Você gosta?
– Ô se gosto! Fèichăng Hăo Chī!

A moça me puxa pelo braço. Andamos uns 20 metros até a banca dos peixes, onde ela já chega gritando com o vendedor, cheia de moral:

– Xiăo Lìu, limpa uns bons camarões pra esse lăowài que ele quer comer com Fóshŏu Guā! Hahaha, lăowài dŏu hĕn qìguài (=estrangeiros são todos muito esquisitos). Onde já se viu, camarão misturado com Fóshŏu Guā!!!

E assim “não tive opção”: o jantar foi mesmo chuchu com camarão… Tá explicado porque tem tanta receita brasileira neste blog que está morando na china?

Chuchu com Camarão
para 2 pessoas

Ingredientes:
– 1 colher de sopa de cebola picada.
– 3 colheres de sopa de azeite de oliva.
– 1 tomate sem pele e sem semente picado.
– 400g de camarão limpo e descascado.
– 2 chuchus médios picados em cubos de aproximadamente 2cm.
– Sal, pimenta do reino, limão e cheiro verde a gosto.

Modo de Preparo:

  1. Tempere o camarão com sal, pimenta e limão. Reserve.
  2. Leve uma panela de barro* ao fogo até que esteja aquecida. Acrescente o azeite e a cebola e refogue até que a cebola esteja transparente.
  3. Junte o camarão, misture e em seguida junte o tomate picado e o chuchu.
  4. Cozinhe até que o chuchu esteja no ponto: importante não deixar o chuchu e o camarão cozinhar demais.
  5. Salpique com cheiro verde e sirva.

*O ideal para este prato é a panela de barro, que dá um sabor especial ao prato e também pode ir à mesa.

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