26 de julho de 2010: Desembarcávamos em Pudong, um calor insuportável. Ah se houvesse quem fotografasse a nossa cara… Gabi otimista e cansada. As crianças num misto de espanto, curiosidade e excitação. Eu sério, tentando disfarçar o medo. A responsabilidade de construir coisas novas pesando. E se não der certo? E se não conseguirmos? E se estivermos colocando todo o nosso futuro a perder? E se, e se, e se?
Nunca me senti tão baratinado e impotente quanto nas primeiras semanas. A língua dificílima (eu já sabia). Impossível falar, pedir, ler, entender ou comunicar qualquer coisa. Pensava cá comigo: “Será que estes chineses realmente não estão me compreendendo? Não, não é possível! Minha mímica é claríssima! Acho que eles fingem que não estão entendendo para não ter que fazer o que eu peço”. Pior ainda era quando alguém do escritório tinha de servir de intérprete, nos momentos em que meus interlocutores não falavam nada de Inglês. Eram longas discussões em Mandarin, eu assistindo com cara de paisagem e pensando: “caramba, eles estão brigando, o que será que está acontecendo? O que será que estão conversando? Vai dar tudo errado!”. E ao final de minutos que pareciam horas, o caridoso intérprete da vez concluía: “Ok, ok, Mr. Roger. They said they will do their best solve your problems!”.
E “problems” não faltavam no começo: dos mais singelos aos mais complexos. Desde não reconhecer o sal e o açúcar na prateleira do supermercado até passar uma tarde inteira detido na delegacia por esquecer-me de comunicar à polícia do bairro que havíamos saído do hotel e mudado para nosso endereço definitivo.
Mas não são os problemas que eu quero tratar aqui. Eles ainda existem e continuarão nos desafiando. Quero mesmo falar é que já caminhamos muito além do que imaginávamos desde que começamos a “escalar a muralha da China”. Superamos muitos obstáculos. Conquistamos nosso espaço, passo a passo.
Sozinhos, obviamente, não teríamos conseguido. Sentimos a mão e a presença de Deus em cada minuto que se passou. Logo na chegada surgiram amigos que nos deram dicas preciosas. Dispostos a nos ajudar a qualquer hora, dividiram conosco suas experiências, sucessos e fracassos, o que ajudou a evitar muitos erros e aborrecimentos. Alguns já voltaram para seu país de origem. Muitos continuam por aqui. E imagine só? Hoje nós também fazemos, com muito prazer, o papel de apoiar os recém chegados.
Conhecemos gente maravilhosa, que batalha conosco diariamente, com dedicação, carinho e alegria. E o saldo até o momento são mais sorrisos do que sisudez. Na maioria das situações os chineses com quem convivemos têm sempre um olhar cordial e a disposição de nos entender e ajudar.
Aprendemos muito. E seguimos no aprendizado, erros e acertos, degrau a degrau. A comunicação aos poucos vai se tornando menos complexa. Encontram-se os caminhos, os truques, e as “pérolas escondidas” da cidade. Chegam os primeiros amigos chineses. E o conforto de sentir-se menos Lăowài e mais shanghainês vai aparecendo.
Estamos felizes e acho que é por isso que me impus a obrigação de escrever a respeito. É interessante registrar neste blog as curiosidades e peripércias de nossa vida chinesa. Mas mais importante é contar as bênçãos e as vitórias. Obrigado, Deus!