Acho que a febre dos pães de fermentação natural surgiu entre os blogueiros há uns dois ou três anos. Influenciável como costumo ser nas questões de vinho e comida, tratei de comprar o livro “Crust” de Richard Bertinet e me aventurar. Segui à risca as instruções de uma receita de pão tipo “sourdough”. Além disso, resolvi documentar tudo: fotografei meticulosamente e registrei cada etapa do processo, anotando também minhas impressões. O objetivo era publicar a experiência aqui no AmuseBouche, num superpost didático.
O Resultado? Desastre total. Depois de dias de trabalho com o cultivo do fermento e a preparação da massa, cheguei um pão sem graça e borrachudo. Nada que valesse o tempo perdido ou que se equiparasse aos comentários maravilhados e retumbantes da blogsfera.
Desisti. Para que ficar insistindo num pão tão demorado? Você tem que cuidar do fermento como um bicho de estimação, misturar, refrescar, alimentar. Gasta horas aguardando a fermentação. Haja tempo disponível! Definitivamente, ser patissier-escravo não se encaixa na minha rotina.
Um ano e meio passou. E aconteceu que no mês passado a Nina do Gourmandise publicou suas experiências com os fermentos naturais. Lindos pães, aparentemente muito saborosos. Me animei a tentar novamente. Fiz tudo como manda o figurino. Tive um par de dúvidas, mandei e-mails, recebi dicas e respostas (obrigado, Nina!). Funcionou! O pão ficou fabuloso: textura ótima, sabor complexo, uma casca crocante… modéstia às favas, coisa de profissional. Ou seria sorte de principiante? Não sei.
A conclusão é que, de hoje em diante, além de alimentar duas crianças e um cachorro, alimento também um pote de levain a cada 3 dias. Garanto que os resultados valem o esforço!
Como fazer o Levain
Receita da Nina, do Gourmandise
Primeiro passo – preparar o fermento: misture 100g de farinha de trigo + 40g de farinha de trigo integral + 45g de água (sempre mineral) + 18g de mel + 40g de suco de laranja (eu usei tangerina). Trabalhe esta massa por cerca de 7 minutos e coloque num pote, cobrindo-o com filme plástico. Guarde o pote em um lugar livre de correntes de ar. Muna-se de bastante paciência. Dentro de 2 a 4 dias a massa deve começar a fermentar, apresentando bolhinhas de ar e um odor ácido.
Segundo passo – primeira realimentação: acrescente à massa fermentada 20g de suco de laranja + 20g de água + 50g de farinha de trigo + 20g de farinha de trigo integral. Misture bem. Cubra com filme plástico e deixe repousar por cerca de 20 horas (isso mesmo! HORAS, não minutos!).
Terceiro passo – segunda realimentação: novamente, acrescente à massa fermentada 20g de suco de laranja + 20g de água + 50g de farinha de trigo + 20g de farinha de trigo integral. Misture bem. Cubra com filme plástico e deixe repousar, agora por “apenas” 12 horas. Pronto! O Levain já pode ser utilizado…muna-se de mais paciência…você ainda tem de fazer o pão (mas, como já disse, vale o sacrifício).
Como guardar: num pote fechado, na geladeira.
Como mantê-lo vivo: a cada 3 a 5 dias, retire o pote da geladeira e deixe-o em repouso à temperatura ambiente por 2 horas. Descarte metade do levain (o ideal é que você aproveite esta quantidade para fazer pães…). Complete com 100% de água + 50% de farinha de trigo + 50% de farinha integral. Misture bem. Volte o pote à geladeira. Para usar novamente, aguarde pelo menos 10hs.
Para utilizar: retire a quantidade desejada e deixe à temperatura ambiente por 6 horas.
Pain de Campagne com fermento natural
Receita também do Gourmandise, com adaptações
Ingredientes:
Modo de Preparo:
Como administrei o tempo: na 6ª. feira pela manhã, deixei um bilhete para Patrícia, pedindo que ela tirasse o Levain da geladeira às 14hs. Às 20hs, iniciei o preparo da massa. Entre 10hs e 11hs modelei a massa. Assei no dia seguinte (sábado) para o café da manhã.