Meu bisavô materno era um sujeito singular. Como médico sanitarista, trabalhou com Oswaldo Cruz no combate à febre amarela. Ganhou medalhas e reconhecimento pelos serviços prestados à saúde e ao Brasil. Como poeta, escrevia de um jeito diferente. Contava seus “causos” à moda caipira, muito antes de Rolando Boldrin sonhar em nascer. Como ser humano, mostrou o que é ser Cristão de verdade. A gente lembra de sua sabedoria e bom humor até hoje.
Bom mineiro de Leopoldina, vovô Abel tinha algumas “manias”. Não abria mão de comer mamão todos os dias pela manhã. Segundo ele, era uma fruta amiga, que garantia a saúde e vida longa. O mamão daquela época era grande, amarelo e redondo. Nada a ver com a Papaya ou o mamão Formosa. A fruta nativa tinha fragrância forte e era menos açucarada, de sabor sutil. Crescia nos fundos da casa da Rua Sabóia Lima, na Tijuca. Sem agrotóxicos, era dividido com os passarinhos que freqüentavam o quintal. Ele conhecia cada um deles e não se importava com as bicadas em sua fruta preferida.
Outra de suas comidas preferidas era sopa de inhame. Vovô Abel dizia que sopa de inhame nutre, faz bem ao sangue e ajuda a recuperar quem está doente. É a sopa do aconchego. Era mais fácil achar inhame antigamente. Redondos, bonitos e baratos, estavam disponíveis em qualquer feira livre, que era onde se comprava frutas, verduras e legumes naquele tempo. Hoje, a menos que conheça um bom feirante, você vai pelejar para achar bons inhames. Em grandes supermercados, se tiver sorte, vai encontrar umas bolinhas envergonhadas, caríssimas.
Através das manias do vovô, a família Tavares de Lacerda aprendeu a comer mamão todo dia e tomar sopa de inhame pelo menos uma vez por semana. Aprendeu muitas outras coisas também. São tantas lembranças, histórias e lições que Vovô Abel merecia um livro…Enquanto não aparece alguém com talento para escrevê-lo, relembrar esta receita (se é que se pode chamar isto de receita) é meu jeito de homenageá-lo.
Sopa de Inhame do Vovô Abel
Ingredientes:
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