Rogério Moraes 17/06/2020 • 3 min
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Aprendiz XIV – Tour de France – Chinon

E continuamos no Tour de France, viagem virtual do Luiz Horta (@luiz.horta). Desta vez o destino é o Loire e os vinhos de lá são bem mais difíceis de achar aqui na China. O “Le Temp Des Cerises” proposto pelo Luiz, nem pensar. Então vamos de outro Chinon, para esta etapa da viagem não passar em branco. Procura daqui e dali, enfim consegui um “Le Paradis – 2007”. 2007?!?! Será que está bom? Pergunto a São Google: nada. Procuro a vinícola no Atlas do Vinho: nada. De lambuja aprendo que a principal uva desta região é a Cabernet Franc. Que os vinhos são leves e frutados, para se beber cedo. Mas nos anos de boa insolação ganham estrutura para amadurecer por até 20 anos. Vou ao Google de novo. Digito “was 2007 a good year for Chinon?”. Encontro um “Vintage Chart” do Wine Spectator (https://www.winespectator.com/vintage-charts) que não me anima muito: 2007 – Inconsistent growing season marked by a cool summer that led to uneven ripening for Cabernet Franc and Sauvignon Blanc. A warm, dry September helped save the vintage for Chenin Blanc;

Ainda assim, instigado pela curiosidade, mando uma mensagem para a loja onde encontrei o vinho. O vendedor me explica um pouco mais, garante que o vinho está bom, 100% Cabernet Franc. E são apenas 2 garrafas que restam. Se estiver estragado ele me devolve o dinheiro. Dou uma de louco e arremato as 2 garrafas de uma vez.

Próximo passo é descobrir com o que harmoniza. Recorro ao Luiz novamente:

-Boa noite, Luiz, tudo bem? Tentando aqui acompanhar o Tour de France… Consegui um Chinon ontem. Infelizmente não é o Le Temp Des Cerises. Queria fazer um risotto para acompanhar. Que ingredientes harmonizariam, na sua opinião?
-Rogério, faça um risotto clássico, com muito parmigiano. Pense num Beaujolais. É parecido. Outra uva, mas tem aquela acidez boa para acompanhar molhos de tomate, pizza, frango assado.

Resolvo partir para uma receita que tenho há muito tempo, com Oud Amsterdam, um queijo holandês pungente que já estava escondido na geladeira há pelo menos 6 meses. Não tem segredo: receita de risoto. No finalzinho do processo se acrescenta cenoura brunoise. Quando chegar ao ponto é só apagar o fogo e juntar uma colherada farta de manteiga, um pouco de tomilho fresco, bastante Oud Amsterdam ralado. Misturar, tampar a panela e esperar uns 5 minutos para servir. Só isso. Como acompanhamento, fatiei 2 abobrinhas em rodelas bem finas, temperei com sal, vinagre branco e pimenta do reino. Reguei com azeite e levei ao forno bem alto para assar (não coube na foto abaixo…).

Beber este Chinon “Le Paradis” 2007 foi uma experiência inusitada. Eu sinceramente esperava que o vinho já estivesse passado e foi o que pensei quando abri a garrafa: um cheiro esquisito e sabor bem ácido. Quase joguei tudo fora. Mas decidi decantar e aguardar por uma hora. Aí é que veio a surpresa! O vinho começou a arredondar e mostrar a que veio. Percebi um vermelho intenso, já puxando para o âmbar. Os aromas foram aparecendo um de cada vez, pouco a pouco: ameixa, passas, louro, feno e um tico de frutas vermelhas. Na boca bastante leve, ácido, refrescante. Com gosto de cereja, framboesa e pimenta preta. Tudo isso, obviamente, combinou de forma certeira com o Oud Amsterdam do Risotto. Mas a surpresa maior veio mesmo no fim do jantar, quando decidi cheirar a garrafa vazia e descobri um aroma inconfundível de maple. Isso mesmo: maple e melado! Então a grande lição é que beber sem preconceitos, sem picuinha e com a cabeça aberta pode trazer muita alegria e prazer. Tem que dar uma chance ao vinho. Se fosse levar em conta a lógica dos “Vintage Charts”, por exemplo, eu nem teria comprado este vinho. Acho que no fundo, todos estes mecanismos de pontuação e classificação existem mesmo é para servir de guia. Não devemos segui-los à risca ou transformá-los em paradigmas, oráculos. O que importa é se você gostou ou não do vinho que bebeu. Se combinou com o que comeu,o quanto lhe trouxe de prazer. E ir aprendendo sempre por experimentar e tirar suas próprias conclusões.

E quanto à outra garrafa que comprei? Vou guarda-la de forma adequada e esperar mais um ano! Quem sabe como evoluirá? Pode ser que renda mais uma escala interessante e outra viagem virtual a Chinon, novos aprendizados.


Le Paradis 2007, Tinto

Mis en bouteille par Le Paradis, Chinon, France
100 Cabernet Franc
RMB 198 = USD 28
Shanghai, junho de 2020

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